Crônica: Natálha

Prestes a completar 18 anos ela resolveu dar um basta na sua pacata e tediosa vidinha. Saiu de casa e caiu nesse mundão louco de Deus.

Naquele dia, a doida acordou bem cedo, se aprontou e não pôs nada na bolsa além do cartão de crédito e muitas lorotas. Não levou nem foto dos pais ou do babaca em quem andava dando uns pegas e por quem se dizia apaixonada Ela foi mesmo embora e nem se despediu.... Antes das 8 já estava na rua, louca, sem rumo.

Passou por lugares incríveis, conheceu pessoas estranhas, se drogou, fez amigos e muito sexo. Começou  a assaltar, mas só pelo prazer de viver perigosamente. 

Chegou até a mudar de nome! Fez muitas pesquisas, checou seu mapa astral e escolheu ser chamada de Natálha - assim mesmo, com LH! Ana Clara era até legal, mas não combinava mais com ela nem com as roupas que passou a usar: ela agora só anda nas alturas das plataformas ousadas "à la" drag queen e se veste com roupas que ela mesmo faz. Adora saias de todos os tipos e faz mó questão de exibir as belas pernocas.

Natálha cortou os cabelos que sempre mantinha enorme só por causa de uma promessa da mãe. Antes disso, usou dread, moicano, pintou de todas as cores possíveis...

Ah, essa Natálha! Já passou por tanta coisa que hoje leva marcas no coração... e no corpo também, como  aquela cicatriz que ganhou no pescoço após ser atingida por uma garrafa numa briga de boteco.

Hoje, aos 21 anos, a doida se sente completamente feliz pelas escolas que fez. Seus pais se preocupam com o que será dela vivendo assim tão intensamente. "Como ela estará aos 30??" Ela?? "Nem te ligo!" Natálha não esquenta a cabeça. Ela prefere viver 20 anos a 100 km/h que 100 a 20.